terça-feira, 18 de março de 2014

Metanóia

              "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus."   S.Paulo








                     Eu Particularmente, gosto muito de São Paulo, seus escritos são densos de uma riqueza e profundidade impar, propondo sempre uma filosofia de vida cristã não alienada, alinhada e parametrizada em princípios científicos para alem de seu próprio tempo. Embora sejam conteúdos inspiracionais, sem qualquer pretensão de autenticação cientifica, não consigo ver contradições ou controvérsias nestes, que possam ser alvo de refutação. Seus ensinos, quase sempre apologéticos, trazem-nos em seu conteúdo algo de libertador, uma psicologia pratica aplicável e compatível com a vida.

                O texto que proponho analisar, está presente na carta de Paulo escrita à Roma e é dividido em duas partes constatáveis. A primeira parte apresenta a ideia de um culto, denominado por ele mesmo, como sendo "culto racional". Ou seja, neste, ele apanha a figura de um suposto culto sacrificial utilizando-se da figura dogmática, religiosa, conforme o contexto cultural de seu publico alvo, para levá-los a experiencia de um superior patamar de consciência. Em analise simples poderíamos traduzir esta estado de culto por ele proposto como, apenas, autocontrole. A capacidade de domínio próprio que redundaria na conexão plena à Deus. Porem, na segunda parte de sua instrução, fica claro que não trata-se apenas disso. O domino próprio em questão ocorre, mas sem o esforço que isto demandaria no caso do individuo que decide-se apenas por preservar uma conduta ilibada pela via do autopoliciamento, sujeitando-se a um modelo de suposta santidade, negando sua própria sombra, sob o superego da auto-repressão. No entanto, o mecanismo por ele proposto, não advêm apenas da força de vontade do individuo, mas de uma aceitação pacificada quanto as suas próprias limitações seguido do reconhecimento, de uma auto-visão real, não distorcida de si. Trata-se de colocar-se nu e patente, totalmente despido dos artifícios da mascaração, dos mecanismos de negação e transferência, do engodo dos méritos do menino bom ou da busca de elevação pela comparação com o outro etc. A ideia que temos de autocontrole, modelo religioso e moral, implica em controlar as pulsões, reações, tendencias, vícios psicológicos, atitudes automáticas e impensadas, pautando a vida em algum padrão ético, moral temporal e cultural. Controlando pelo próprio esforço as tendencias naturais da nossa mente condicionada, viciada, incontida e influenciada etc. Obviamente que a proposta Paulina, transcende o mero autocontrole e isto veremos a seguir.

              Após esta breve introdução, analisaremos, sem a pretensão de esgotar o assunto, a segunda parte da instrução Paulina aos Romanos. Nesta, Paulo utiliza-se da figura do culto, fala da necessidade de autocontrole e mostra o meio para se atingir um estado de self superior, transcendendo a própria necessidade do cabresto moral. Ele apresenta um meio para se superar a animalidade, transcender as pulsões e principalmente, sem a hipocrisia do puritanismo, dos regrismos, dos moralismos, dos recalquismos etc. Evitando consequentemente toda sorte de doenças do trato psicológico que é comum a todos nos que ansiamos pela excelência, conforme os paradigmas vigentes de homem perfeito. Ou seja, ele nos fala de um culto racional que implica em libertar-se dos vícios mentais, tornando consciente e compreensíveis as nossas atitudes, experenciando uma nova dimensão de mente que finalmente redunda em um estado de culto a Deus (sinergia e conexão) e no atingimento da condição de individuo individuado, agora com a percepção de um sentido de vida e propósito. Ele propõe como meio de crescimento, conexão e domínio de si, uma transformação continua por via da mudança também contínua dos padrões mentais, que ele chama de "renovação da mente". Note que ele não propõe uma verdade a ser seguida, não propõe nenhum padrão ou método de culto. Ele fala de dinâmicas da alma, de fluidez, fala em renovação, estado continuo e constante de mudança que leva a uma metamorfose infinita. Esta transformação, este meio de se experimentar o propósito da existência, segundo ele, se dá pelo conhecimento progressivo, fluente, renovável e sem nenhuma fixidez. A experienciação da vida com propósito, a vivencia de sentido existencial se dá enfim, pelo caminhar através do saber e saber cada vez mais, ajustando o trajeto a partir do conhecimento, mantendo-se aberto a revisão de conteúdo e a upgrades constantes, libertando-se do passado, da interpretação religiosa engessada e das limitações da minha própria análise exposta aqui. Se você olhar novamente todo o contexto, do texto Paulino, verá que não se trata da simples supressão das pulsões, mas de uma transformação consequente, a posteriori, em função deste conhecimento circulante, não fixo que é a priori, o autoconhecimento. Paulo praticamente nos manda para a psicoterapia. Ele ensina a não se deixar levar pelo fluxo (conformação com o presente seculo) Ou seja: a nossa tendencia é esta zona de conforto, medir-se pela média, influenciar-se pela mídia, não pensar por si, deixar-se conduzir, aceitar designos, por-se sobre o muro, fazer parte do meio, enquadrar-se a sistemas e esquemas e, principalmente não pensar sobre assuntos perturbadores. No entanto é a contra cultura que sugere Paulo. E agora digo eu: ninguém vai encontrar seu caminho, deixando-se clonar pelos padrões sociais e religiosos socados de fora para dentro. O ideal não é idealizável, não se supera um vicio substituindo-o por outro mais saudável, não se quebra um condicionamento condicionando-se a outro padrão. Saúde é movimento, toda fixação é doença.

              Os judeus eram nômades, andantes, então fixaram-se na terra prometida e tudo ficou como ainda hoje é. A terra prometida é um estado mental a ser buscado. Todas as psicologias falam disso, a bíblia, alegoricamente trata disso e este é o nosso caminho.

            Lamento e ouso dizer que a grande maioria de nós ainda hoje, 2000 anos depois de Paulo, passemos pela vida no piloto automático recebendo upgrade inconscientes do sistema dominante e sendo arrastado pela levas das ovelhas sem destino, perdendo a identidade, a individualidade, perdendo a vida.

Enfim fica aí a reflexão..
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             Somos mais. Somos deuses. Quem apenas exerce autocontrole se entope e via de regra explode. Quem apenas se deixa levar acaba sendo levado com a leva dos que não são. Quem se conhece, se aceita e se perdoa, cala a vós de suas pulsões transcendendo a sua animalidade. Descartando enfim, os agora, desnecessários cabrestos da religião e da moralidade...

Pense...............

         Creio que transcender a animalidade seja o nosso propósito neste caminho de volta...




Culto racional: Estado de conexão consciente e permanente com Deus (Self)

Não vos conformeis com este século: Não vos torneis iguais, clonáveis, direcionáveis, influenciáveis e levados pelo fluxo dos espirito de rebanho.

Transformai-vos pela renovação da vossa mente: Mude a partir da quebra de padrões mentais. Reabra as questões, questione e substitua as velharias de sua mente por coisas novas, resolva e descarte o passado.

Para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus: Para que sejam vocês, indivíduos individuados, sem crenças equivocadas e auto-enganos. Encontrem o sentido e o propósito de ser.

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